Havia uma moça que nasceu com mãos de luar — diziam que, ao tocar uma flor, ela florescia de novo, mesmo murcha.
Seu pai, um lenhador pobre, fez um pacto com um espírito da floresta em troca de fartura.
Mas o espírito pediu em troca “aquilo que está atrás do moinho”.
Sem saber, o pai aceitou — pensando que fosse uma pilha de lenha.
Mas atrás do moinho estava a filha, colhendo ervas com as mãos delicadas.
Na noite seguinte, o espírito veio para buscá-la.
A donzela fugiu, mas o espírito amaldiçoou suas mãos:
— Se quiser mantê-las, nunca poderá usá-las para si mesma.
A moça tentou viver assim — ajudando todos, menos a si.
Cansada, um dia mergulhou os pulsos no rio e disse:
— Se não posso usar minhas mãos, que elas retornem à água de onde vieram.
E assim foi. Suas mãos se dissolveram como neblina.
Sem mãos, ela partiu em exílio.
Mas algo estranho aconteceu:
As árvores começaram a se curvar diante dela.
As águas abriam caminho.
As feras da floresta deitavam a cabeça em seu colo.
Sem mãos, ela se tornou intocável, mas profundamente sentida.
Onde passava, brotava silêncio, e depois cura.
Dizem que um dia ela voltou à vila, onde ninguém mais a reconheceu.
Menos uma criança muda, que a viu e falou pela primeira vez:
— Ela toca sem tocar.
Este conto eslavo, pouco conhecido fora das tradições orais do Leste Europeu, carrega símbolos profundos sobre sacrifício, silêncio e o poder da presença invisível. É uma narrativa que ecoa em muitas culturas com variações distintas, mas sempre com a mesma essência: quando aquilo que nos falta é acolhido, algo maior começa a florescer.