Há dores que não passam com o tempo. Há feridas que não querem ser curadas — não por teimosia, mas por mistério.
Quíron, o mais sábio dos centauros, nasceu imortal. Mestre de heróis, conhecedor das artes da medicina, da música, da guerra e da contemplação.
Cuidava dos outros com mãos firmes e palavras que cicatrizavam.
Mas um dia foi ferido por uma flecha envenenada.
E sua imortalidade se tornou cárcere.
A dor que não cessava o fez vagar entre florestas e grutas, tentando aplicar sobre si os mesmos remédios que oferecia aos outros. Mas nenhum deles funcionava.
Quíron sabia tudo sobre cura — exceto como curar a si mesmo.
E foi nesse vazio que algo profundo se revelou:
Sua dor, embora insuportável, o tornava mais sensível.
Quanto mais sofria, mais compreendia.
Quanto mais incompleto, mais compassivo.
O curador ferido tornou-se símbolo de um paradoxo:
Às vezes, é aquele que sangra que melhor entende como estancar o sangue alheio.
E há dores que não são para serem curadas — são para se tornarem pontes.