O Curador Rendido

Há um momento em que até o mais sábio se curva.
Não por fraqueza, mas por reconhecimento.
Quíron, depois de tanto ensinar, de tanto curar, entendeu que algumas dores não foram feitas para desaparecer — mas para nos conduzir até o limite do que ainda resistimos a entregar.

Este é o relato não da cura, mas da rendição.
Do instante em que o curador renuncia à própria eternidade,
não para salvar a si mesmo —
mas para permitir que algo maior aconteça,
algo que só nasce quando deixamos de lutar contra a própria ferida.

E é nesse instante — onde não há mais nada a oferecer, nem a pedir — que algo muda.

Há um ponto em que a busca se esgota.
Quando nem o saber, nem o tempo, nem a esperança trazem alívio.
Quíron, o curador ferido, sabia disso.

Após anos vagando com sua dor incurável, ele percebeu que o fardo da imortalidade era grande demais para um coração partido.
E então fez um gesto silencioso, grandioso e final:
renunciou à própria eternidade.

Ofereceu sua imortalidade em troca da liberdade de Prometeu — aquele que também havia sido condenado por sua dádiva ao mundo.
Esse ato, mais do que qualquer cura, selou sua transfiguração.

Quíron morreu. Mas não foi esquecido.
Foi colocado nos céus, transformado na constelação de Sagitário.
E desde então, sua dor deixou de ser peso, e virou direção.

Agora ele não cura mais com ervas ou palavras,
mas com presença distante e constante —
um brilho no escuro que lembra aos que ainda caminham:
há algo além da dor,
e mesmo as feridas mais antigas podem um dia se tornar estrelas.

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