Era manhã em Vrindávana. O cheiro de leite fresco se espalhava no ar, mas Yashoda, a mãe de Krishna, não encontrava seu menino em lugar algum.
Silêncio suspeito. Travessura certa.
E lá estava ele — o pequeno Krishna — coberto de manteiga, rindo com os olhos brilhando de travessura, distribuindo o conteúdo do pote aos macacos que o rodeavam como súditos em festa.
A manteiga era doce. Mas mais doce ainda era a alegria de dar.
Yashoda, furiosa e cansada das suas traquinagens, correu atrás do menino com um pano em mãos e a respiração curta. Krishna correu, tropeçou… e foi pego.
— Hoje não me escapas, meu menino danado!
Determinada, ela decidiu amarrá-lo a um tronco, como castigo.
Pegou uma corda e começou a amarrar. Mas por algum motivo misterioso… sempre faltavam dois dedos de corda.
— Ora, o que é isso? — disse, já suando.
Pegou mais um pedaço. E ainda assim, faltavam dois dedos.
Mais uma vez. E de novo. E de novo.
Yashoda bufava, o coração acelerado, a mente confusa.
Como é possível que um menino tão pequeno não possa ser contido com toda a corda da casa?
Era porque Krishna não pode ser contido.
Sua verdadeira natureza é liberdade sem medida.
Ele é o infinito brincando na forma de uma criança.
Mas então… vendo o esforço e o amor genuíno de sua mãe, Krishna se compadeceu.
E, por amor, se deixou amarrar.
Yashoda se acalmou. Olhou o rostinho travesso, agora sereno, e quis dar-lhe um sermão.
Mas algo a deteve.
Krishna bocejou. E em sua boca…
Ela viu o céu.
Viu as galáxias.
Viu o tempo, os mundos, os deuses.
Viu a si mesma.
Viu o universo inteiro.
E naquele instante, entendeu:
o menino que ela tentava prender…
era o próprio Infinito, permitindo-se ser filho.

Às vezes, o que é vasto se dobra. O que é eterno se deixa tocar. E o que é divino aceita ser pequeno — só para caber no nosso colo. Este conto, vindo da tradição hindu, não é apenas sobre Krishna e sua mãe, mas sobre todo amor verdadeiro: aquele que não precisa provar poder, mas escolhe se oferecer em presença. Talvez seja isso o que ainda buscamos, no fundo: um infinito que se permita ser nosso, mesmo que por um instante, mesmo que amarrado com afeto.